sábado, julho 22, 2017

PEÇAS BRILHANTES COLADAS COM MÁ COLA

Heróis da Nação: CRÉDITOS COMPLETOS

À primeira vista, "Their Finest" tem tudo para dar certo: uma história interessante, bons atores, a irrepreensível perfeição do cinema inglês e aquele humor inteligente, mordaz, que não fazendo rir, faz sorrir com gosto. Então, porque é que saímos do cinema com aquela sensação de ter assistido a um filme com enorme potencial e que, de certa forma, foi deixado a meio no que prometia?


Estamos em 1940 e a Inglaterra está em maus lençóis contra a Alemanha nazi. 300 mil soldados ingleses e franceses acabam de ser derrotados por uma divisão Panzer na batalha de Dunquerque e o Ministério da Propaganda britânico quer transformar uma derrota humilhante num episódio heróico, para o que conta com uma equipa de argumentistas de cinema: Tom Buckley (Sam Claflin) e Raymond Parfitt (Paul Ritter), aos quais se junta Catrin Cole (Gemma Arterton), esposa de Ellis Cole (Jack Huston), um artista falhado e falido.


"Their Finest" é, portanto, um filme sobre o cinema, o que, não sendo nada de novo, requer algum sentido de obsevação já que se trata de um autorretrato e parece-me que é exatamente aí que o realizador Lone Scherfig - com uma carreira, senão exuberante, pelo menos consistente - começa a vacilar, ao querer tocar em várias teclas ao mesmo tempo: a condição feminina, o non-sense do próprio cinema, o ridículo da propaganda política, o drama de Londres sob constante bombardeamento alemão...


No fim, nunca se percebe bem o que Scherfig quer fazer de "Their Finest", acabando por ficar-se num meio termo não totalmente desinteressante, mas certamente sem alma, conseguindo arrancar alguns sorrisos, mas não atingir um pico dramático que entusiasme o espetador. O filme é vitima da sua própria indecisão e, ao contrário dos bombardeiros alemães que flagelavam Londres na época, nunca consegue levantar os pés do chão e voar, apesar de todas as potencialidades que lhe reconhecemos.


Não há dúvida que "Their Finest" tem o seu encanto, os ingleses são exímios reprodutores de épocas, cenógrafos exemplares e possuem um leque de atores de qualidade superior. Tudo isso é visível. O que parece não funcionar, é a cola com que Lone Scherfig tenta fixar todas estas peças de excelência que tem ao seu dispor. O resultado final não é mau, mas tem a possibilidade de ser brilhante e fica-se pelo suficiente.

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