quarta-feira, outubro 04, 2017

ARRASADO PELA CRITICA, ADORADO PELOS ESPECTADORES

"- A violência não é a pior coisa do mundo.
- O que é, então?
- A indiferença."

CRÉDITOS COMPLETOS

 "The Book of Henry" não é para quem gosta de histórias lineares, daqueles que seguem direitinho um plano estabelecido. Apesar de alguns defeitos - uma certa infantilidade em alguns diálogos, por exemplo -, este vai ser, para mim, um dos melhores filmes do ano, certamente uns dos melhores até agora e, muito provavelmente, inultrapassável até Dezembro.


Salpicado com uns pozinhos de comédia - mas não o suficiente para aniquilar a carga dramática da história -, "The Book of Henry" trás para a frente de batalha assuntos sérios e incomodativos, para mim especialmente: a morte e o abuso de crianças. É um filme que lida de forma radical com ambos, servido por várias interpretações absolutamente superiores, a começar pelo irmão mais novo Peter (Jacob Tremblay).


Henry (Jaeden Lieberher) tem um diário secreto, não onde escreve o seu dia a dia, mas onde organiza um esquema meticuloso que a sua mãe Susan (Noami Watts) deve seguir à risca, para acabar com o drama da sua vizinha - colega de escola e secreta apaixonada - Christina (Maddie Ziegler). A partir deste argumento de Gregg Hurwitz - multi-nomeado para infinitos prémios, pelas suas novelas policiais e de mistério -, Colin Trevorrow constrói um drama pungente de vingança e redenção, preso entre a comédia, o romance e o thriller.


Servido por interpretações às vezes infantis, mas sempre excelentes, a história tanto pode ser encarada como um drama familiar, um romance pouco convencional ou um thriller disfarçado de comédia. A verdade é que estamos perante uma mãe desorganizada, apesar de interessada, que se envolve - por motivos que preferia que não tivessem acontecido - num outro núcleo familiar, quebrando a sua premissa existencial de que "não é da nossa conta". Irá, então, descobrir que tudo é da nossa conta e que o bem estar do vizinho é importante para o nosso próprio bem estar.


Todas as criticas que li arrasam este filme, considerando que parece tratar de forma superficial e infantil um tema que deveria ser levado muito a sério na sociedade actual. No entanto, eu vou repetir o que disse ao inicio: este foi, até agora, um dos melhores dramas do ano para mim e é muito provável que, até ao final, poucos consigam interessar-me e motivar-me como este "The Book of Henry". Se fui influenciado pelo tema, quer a morte quer a pedofilia, que me incomodam em particular? Certamente.


Ao contrário da critica, os espectadores parecem gostar deste filme. Identificam-se com estes personagens que, na sua simplicidade, parecem saídos da casa ao lado da sua, sendo essa uma premissa importante na história: importar-se com o vizinho, saber que a felicidade do "outro" é de importância vital para a felicidade do "eu". Nesse sentido, é um filme redentor, uma infantilidade feliz e de esperança.

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