Una: Negra Sedução: CRÉDITOS COMPLETOS |
Nada além de "Down By The Water" de P J Harvey podia ilustrar melhor este "Una", cujo tema é tão incomodativo, que o realizador Benedict Andrews vê-se muitas vezes na obrigação de se fixar no que parece secundário, para que o principal seja mais subentendido que entendido. Não sendo uma perfeição, a performance quer de Rooney Mara, quer de Ben Mendelsohn, conseguem manter o espectador fechado numa sala, enquanto os seus personagens, Una e Ray, se confrontam sobre o que têm em comum.
Uma mulher procura um homem no seu local de trabalho, pretendendo confronta-lo com factos do passado comum. Nesse aspecto, o filme não perde tempo a criar suspense sobre o tema central. Ao fim de poucos minutos já sabemos que lidamos com o abuso de crianças: quando tinha 13 anos, Una (interpretada por Ruby Stokes) foi seduzida pelo seu vizinho Ray. Mas a Una adulta não quer vingança e é nessa contradição entre sedutor e seduzido que a obra vai buscar a lenha para arder.
Baseado na peça de teatro "Blackbird" de David Harrower, uma sala serve de palco a toda a tensão entre os personagens, sendo a história contada em flash-back. É quando abandona a performance fabulosa de Rooney Mara e Ben Mendelsohn que o filme parece perder-se, já que a empatia entre os dois actores é de tal forma intensa que, quando saem do ecrã, é como se um balão se esvaziasse. Dá a impressão que Benedict Andrews nunca se apercebe bem do diamante que tem na mão, perdendo tempo a procurar alternativas no vidro de pchebeque.
A complexidade do duo Una-Ray é o principal trunfo do filme, que vai agradar a quem gosta de dialogos bem construidos por personagens intensos. O principal problema do filme é a sua estrutura: baseado numa peça de teatro, dá a impressão que o realizador não consegue ficar quieto na cadeira, saltando entre cenas do passado, que, no fim, não acrescentam drama à intensidade do confronto entre os actores.
"Una" é uma hora e meia de cinema ambiguo. Alimentado pelo fogo intenso de dois actores extraordinários, que farão as delicias de muitos cinéfilos, deixa-se perder em pormenores desinteressantes que distraem os espectadores esmagados na cadeira. É como se, de repente, retirassem o tapete do drama, para perguntar se queremos chá, café ou laranjada. Na verdade, naquele preciso momento, não queremos nada, só desfrutar dum certo prazer, que acabou de nos ser roubado.
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