segunda-feira, fevereiro 12, 2018

TODOS OS ROMANCES DO MUNDO

A Forma da Água: CRÉDITOS COMPLETOS

Tenho a confessar que fui para "The Shape of Water" com muitos bons preconceitos. O primeiro deles, acerca de Guillermo del Toro, de quem sou um grande admirador, o pai de "Hellboy" e o director do gótico "Crimson Peak"; depois, a minha paixão por Sally Hawkins, que não possuindo aquela beleza estereotipada de Hollywood, partiu o meu coração em filmes como "Uma Outra Educação", ou "Nunca me Deixes", ou "X + Y"; finalmente, as 13 nomeações para os Óscars, que o deixam logo num patamar ao nível de "E Tudo o Vento levou" ou "Quem Tem Medo de Virginia Wolf?".


Este "The Shape of Water" é, na sua essência, um simples romance. A história de Elisa Esposito (Sally Hawkins), empregada da limpeza num laboratório espacial americano, que se apaixona por um ser aquático, encarcerado para investigação. Os leitores destas páginas já sabem como eu adoro romances, só que também sabem como eu separo romances de romances. E este é um daqueles que há-de ficara colado à pele dos espectadores para o resto da vida, não como "Casablanca" (que esse é de outro planeta), mas certamente como "Titanic" ou "A Paixão de Shakespear", apenas como exemplo.


O que salta logo à vista é a forma como Guillermo del Toro trata a câmara, como se trabalhasse filigrana sensível, com pequenos zooms e travellers subtis, de tal forma que a plateia é sempre conduzida para o que realmente importa, levada pela mão numa viagem suave, como se estivesse num carro conduzido pelo mais competente motorista, daqueles que nos permitem ir no banco de trás a ler o jornal, sem solavancos, travagens bruscas ou curvas dinâmicas. Tudo isto servido de bandeja por um elenco de tal forma eficiente, que cada um só podia estar ali a fazer exactamente o que está a fazer.


"The Shape of Water" não renuncia a todas as referências que ele próprio mete à nossa frente, desde "A Família Adams" aos mais infantis contos de fadas, aqui com um erotismo de cortar a respiração. Guillermo del Toro gosta tanto de "O Monstro da Lagoa Negra" como de Fred Astaire, e nunca tem vergonha de assumir essa bipolaridade entre o brejeiro e o horroroso - a começar pela beleza colorida da criatura por quem Elisa se apaixona. Este é um filme saboroso: sabe bem quando se está a ver, sabe bem depois quando pensamos no que estivemos a ver e sabe bem no divertimento que provoca no espectador e que, vendo bem, é consequência do prazer que toda a equipa parece ter a faze-lo.


Vamos-nos deixar de esquisitices: este filme não é nada mais do que se pode ver à primeira vista, um romance, como já disse, só que um romance pintado de um colorido fascinante. Se o deixarem ser o que realmente é, transforma-se numa experiência única de prazer e divertimento. Guilhermo del Toro e a sua equipa, aos ombros do conjunto de actores que escolheu, cria um conto de fadas para adultos sobre comunicação, simpatia e amor incondicional. Está aqui tudo, de "Eduardo Mãos de Tesoura" a "A Bela e o Monstro". Vamos desfrutar dum momento de cinema único, fascinante e retemperador.

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