"Metal Evolution" é uma série de TV em 12 episódios, criada e dirigida pelo antropólogo Sam Dunn, que tenta de forma metódica contar a história do heavy-metal e a sua evolução ao longo dos diferentes géneros e sub-géneros. Se existem documentários sobre a história e evolução do jazz, dos blues, do rock'n'roll (em termos genéricos), porque não do metal? Esta é a questão base.
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O documentário tem defeitos e qualidades. O principal defeito é a excerssiva orientação para o humano, para a importância da antropologia social na evolução do heavy-metal. Se é verdade que a música é feita por pessoas e as pessoas são elementos socio-políticos, também é verdade que o rock em geral, e o heavy-metal em particular, são tecnológicos, precisam de amplificadores, pedais, distorção. "Metal Evolution" é demasiado humano, dedicando pouca atenção à investigação que as marcas dedicam ao material.
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Outro defeito, do qual pouco devemos poder culpar o próprio Sam Dunn, é que 45 ou 50 minutos é muito pouco tempo para ser dedicado a cada um dos temas. Cada episódio parece ser feito a correr, sem se dedicar com profundidade ao tema central. É obvio que o apresentador tem um orçamento a respeitar e a evolução do metal levou-o a demasiados sub-géneros, o que dispersou a atenção, mas seria preferível reduzur os assuntos e aumentar o tempo de cada secção.
Thrash: Megadeath - Peace Sells
Mas "Metal Evolution" tem muitas qualidades, que superam os defeitos, e que fazem dele o mais completo e interessante documentário sobre o heavy-metal. E a principal qualidade é que Sam Dunn não se submete a preconceitos e vai com o mesmo entusiasmo ao thrash e ao nu-metal - género que os (verdadeiros) amantes do metal não consideram metal! -, ao extreme-metal e ao grunge - género que muita gente questiona se é realmente metal.
Melodic-metal: Nightwish - Wish I Had An Angel
Outra das qualidade do documentário é o facto de estar orientado em forma de investigação, o que faz Sam Dunn estar constantemente a levantar questões pertinentes, a partir das quais desenvolve o episódio. Isso provoca no espectador curiosidade, mantento a atenção focada na resolução de um problema específico, mesmo considerando que, devido ao tamanho dos episódios, muitas perguntas fiquem por resolver.
Extreme-metal: Death - The Philosopher
No geral, "Metal Evolution" parece ser o mais completo documentário sobre um género específico de música. São cerca de 12 horas onde o heavy-metal é abordado sem preconceitos, apesar da diversificação de sub-géneros poder levantar algumas suspeitas. Parece ser muito mais dedicado aos leigos que aos amantes do género - que vão sempre achá-lo superficial, incompleto e infantil.
Vamos já esclarecer quem é o realizador Marcos Siega: filmou episódios de, por exemplo, "Sangue Fresco", "Casos Arquivados", "Diário do Vampiro" ou "Dexter", fez tele-discos para os Anthrax, Blink 182 ou Sistem of a Down e este "Chaos Theory" parece ser a sua única longa metragem. Com tanta experiência em tv e música, se há coisa que ele sabe é reduzir o lixo, eliminar tempos mortos, manter o ritmo que prenda o espectador. Essa é a principal característica deste filme: não chateia.
Se juntarmos a Marcos Siega o argumentista Daniel Taplitz, também ele especialista em tv, com a mesma noção de ritmo, de cortar exageros, de ser directo, então temos um filme que funciona como uma colagem de tele-discos em pequenas histórias que se vão cruzando, mantendo o espectador agarrado ao ecrã sem saber bem o que pode acontecer a seguir. Essa é a outra característica de "Chaos Theory": um argumento intrincado, com surpresas a todo o instante.
Depois temos os actores Ryan Reynolds e Emily Mortimore, os personagens Frank Allen e Susan, que não fazendo uma representação que possa valer um Óscar, parecem estar à vontade e divertir-se nos papeis que desempenham, têm química quer quando estão juntos, quer quando contracenam com os personagens secundários. Essa é a terceira característica do filme: honestidade e divertimento.
O filme começa e acaba com um casamento, mas isso nem é importante, porque quem se vai casar é indiferente para a história, que se centra em Frank Allen, marido e pai, um fanático dos dias organizados, com o tempo todo controlado e o dia a dia assente em listas de coisas a fazer. Só que a vida age por si própria e um dia tudo sai fora da linha, com uma série de peripécias a dar-lhe a volta ao controle e à rotina.
O argumento de Daniel Taplitz envolve-se num drama familiar que se desenrola num emaranhado de surpresas e mal-entendidos, deixando o espectador suspenso em várias situações que, quando parecem resolvidas, ficam bloqueadas por uma nova reviravolta. Embora possa ser considerado uma comédia romântica, "Chaos Theory" não deixa de usar certas técnicas de suspanse hitchcockianas, sempre a chamar a lágrima ao canto do olho, à boa maneira spielberguiana.
Há muita gente que diz não gostasr de comédias românticas, porque já sabemos como vai acabar. Isso é absolutamente verdade em "Chaos Theory", até porque começa logo no casamento, portanto podemos antecipar imediatamente como vai terminar. Só que até esse final já previsto, o espectador vai ter de desenrolar um enorme novelo de perípécias e reviravoltas surpreendentes.
O realizador Oriol Paulo é um mestre de argumentos com surpresas e reviravoltas, pelo que este "Durante la tormenta" não foge à regra. Depois de "Contra Tempo" de 2016 - que, com os seus 25 milhões de receita na China, se tornou o maior boxoffice espanhol no estrangeiro -, e de "El Cuerpo" de 2012, o director traz em 2018 um filme de ficção-científica, que é, ao mesmo tempo, um romance e um thriller.
Há uma tempestade que se repete 25 anos depois, há um crime, há uma criança que morre, há uma mulher que consegue viajar no tempo, tentando alterar o passado. Só que alterar o passado altera o futuro e Vera Roy (Adriana Ugarte) vê-se envolvida numa série de surpresas e mal entendidos na sua própria vida.
Eu sei que "Efeito Borboleta" - apenas como exemplo - veio logo à vossa memória. Mas se há coisa que "Durante la tormenta" não procura, é ser original. Isso não lhe retira nada de interesse. Começa devagar, sem ser imediatamente óbvio o - ou "os" - tema central, passando a passos cada vez mais rápidos, sempre introduzindo surpresas, nunca deixando que o espectador se sinta confortável no que pode vir a seguir.
"Durante la tormente" é, acima de tudo, um filme honesto, nunca renunciado às suas influências, acenando com as colagens com orgulho e emotividade. De "Regresso ao Futuro" ao já citado "Efeito Borboleta", passando por "Poltergeist" ou "Peggy Sue Casou-se", Oriol Paulo mete tudo no mesmo saco e faz uma obra interessante e apelativa. Não é muito original, é certo, mas esse acaba por ser o seu maior trunfo.
Não sendo um produto low-cost como "El Cuerpo", não é uma superprodução. Tem uma gestão eficiente dos meios de que dispõe, mantendo-se naquele nível de cinema independente que está longe das fortunas de Hollywood. Depois dos milhões de "Contra Tempo", Oriol Paulo tem direito a um certo desafogo no orçamento, é verdade, mas não há desperdícios em "Durante la tormenta", ninguém se mete em aventuras exageradas, tudo é gasto exactamento onde tem de ser.
Este é um daqueles filmes que, no final, agradecemos por ter ficado em casa. Vale cada minuto, deixa o espectador colado à história e às surpresas que vão chegando quase a cada instante. "Durante la tormenta" é um cocktail para apreciadores de policiais, de romances ou de ficção-científica. Não é o melhor filme do mundo, mas é o melhor do mundo num só filme.
Peguei neste "Only" depois da desilusão que foi "Joker" e para fugir às grandes produções de Hollywood. Um filme independente, premiado em 2019 pelo Tribeca Film Festival, parecia ser a aposta certa para os tempos que se avizinham. Mas este filme falha em toda a linha. É uma produção cuidada, com actores que representam sufucuentemente bem para serem crediveis, muitas cenas em exterirores - o que representa sempre um custo acrescido, que os contabilistas não perdoam -, mas depois é tão previsível, tão certinho, tão limpinho, que se torna aborrecido e desinteressante.
Um cometa liberta um estranho vírus, que dizima todas as mulheres do planeta. Um jovem casal decide esconder-se, embarcando numa viagem onde acabam por ser as próprias vitimas do seu isolamento. As interpretações não são desinteressantes e o realizador Takashi Doscher não faz um mau trabalho, mas nessa procura tão desesperada de não desiludir, o filme acaba por ser vítima da limpeza e da esterilização.
O lado mais positivo do filme está na química entre Eva (Freida Pinto) e Will (Leslie Odom Jr.), que realmentye parecem um casal apaixonado, suportando-se tanto nos momentos bons como maus. Na verdade, parecem numa relação real; o lado mis negativo - e já não falo dos erros de lógica, como o facto de Eva querer parecer um rapaz, e passar o filme sem cortar o cabelo! - o lado mais negativo, dizia eu, é precisamente o medo de falhar, o medo de correr o risco de ir um passo mais longe.
"Only" é um daqueles filmes que até dá pena de dizer mal. É um filme feito com epenho, com profissionalismo, com carinho, por todas as partes que o compõem, a interpretação, a produção, a realização... Mas depois, procurando uma esterilização artificial, que o torne imune às ameaças exteriores, acaba por perder-se na sua própria perfeição aparente.
Ao contrário do vírus que ataca a Terra, "Only" é um filme inócuo. Feito com cuidado, mas inofensivo, sem ritmo que apele ao espectador e com o suspense - se era para ter - mal gerido. Cada cena é duma previsibilidade desencorajamte e o final antecipa-se ao fim de 15 ou 20 minutos depois do começo. É uma pena. A dedicação de todos, merecia melhor resultado final.
Por vários motivos, entre os quais, apenas deixar assentar a poeira, só agora decidi pegar em "Joker". Durante a exibição, o verso de Natália Correia veio-me à memória. Mais que uma história sobre o personagem dos comics, este filme é um exercício de interpretação de Joaquin Phoenix, sob a direcção de Todd Phillips. Resta saber quem foi o verdadeiro maestro da orquestra, se o actor, se o realizador. É, no entanto, uma visão plausível sobre a origem do arqui-inimigo de Batman.
Seja qual for a intenção do espectador, fã de comics ou fã de actores exibicionistas, este "Joker" é um filme intenso. Uma alegoria sobre a solidão, sobre pessoas inadaptadas, sobre o que é a normalidade, enfim, uma metáfora sobre a sociedade em geral, da qual Gotham é, ela própria, uma espécie de holograma.
O filme conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um comediante falhado com problemas mentais, e da sua descida ao inferno, levando-o a uma espiral de crime e sangue. É, nem mais nem menos, o inicio e a origem do personagem criado por Bill Finger e Bob Kane para a DC Comics e que viria a ser (quase) tão famoso como o justiceiro do morcego. Tem, como primeira curiosidade, acrescentar história à saga de Batman.
Se retirarmos do filme toda a carga dramática da (excelente, diga-se) interpretação do actor principal, fica uma espécie de vazio. Alimentado por toda uma discução acerca de valores morais, nihilismo, mesmo de má-fé, "Joker" esvazia-se como um balão furado quando nos concentramos no cinema puro e simples. Fica muito pouco para o dia seguinte, embora nada disso lhe retire o reconhecimento de uma produção cuidada, uma realização metódica, uma banda sonora adequada, uma fotografia de grande qualidade.
Um filme tem, acima de tudo, de ter uma atitude, senão de provovação, no mínimo de coerência com a sua história, tem de estimular a imaginação do espectador, chamá-lo para algum sitio. Centrado no seu umbigo, "Joker" nunca consegue tirar a plateia da própria cadeira, não passa de um desbobinar de 24 imagens por segundo numa parede iluminada. Como li algures, "tem medo da sua própria sombra".
Vamos ser claros: não há nada de errado com a possibilidade desta história ser "colada" ao personagem dos comics. É uma origem, como já disse, plausível, aceitável e coerente. Nessa perspectiva, "Joker" não tem problema nenhum. Só que vai aborrecer muita gente - a mim aborreceu-me! -, ao mesmo tempo que vai fazer outra tanta dar pulos de êxtase perante a performance de Joaquin Phoenix. Mas visto de forma clara e fria, o filme é como o seu personagem, que ri tão alto e desajustadamente, que mais ninguém consegue rir-se. É um exercício louco e inadaptado, um palhaço a contrato, quase sempre desempregado.
Eu gosto de corridas de automóveis e de filmes sobre corridas de automóveis. Gostei do "Grand Prix" de 1966 com James Gamer e Yves Montand, gostei do "Les Mans" de 1971 com Steve McQueen e Siegfried Rauch, gostei do "Dias de Tempestade" de 1990 com Tom Cruise e Robert Duvall, enfim, eu gosto de corridas de automóveis e de filmes sobre corridas de automóveis. Por isso, gostei deste "Ford v Ferrari".
Nos anos 60, as mais importantes provas desportivas que envolvessem automóveis eram dominadas pelos carros europeus, em especial os italianos Ferrari, Alfa-Romeo ou Maserati. Para fazer frente a uma grave crise económica, a americana Ford decide investir num departamento de corridas, de onde acabou por sair o mitico GT40, uma máquina que acabou com a supermacia da marca do cavalinho na mais mediática corrida de carros do mundo: as 24 horas de Les Mans.
É verdade que este "Ford v Ferrari" não passa duma colagem de clichês sobre filmes de corridas de automóveis: as dificuldaees da engenharia e da mecânica, sons de motores e câmaras ao nível do chão para aumentar a sensação de velocidade, planos de mãos sobre a manete das mudanças, pilotos rebeldes que se revelam a melhor opção, mesmo contra os departamentos de advogados e de marketing. Está tudo aqui e nem vale a pena assobiar para o lado.
Este é um filme de coisas já vistas, é um filme sobre pura velocidade e para quem gosta de pura velocidade, mesmo que, pelo meio, tente introduzir algum humor - como a viagem a Itália dos representantes da Ford, por exemplo -, ou algum romance - como a relação entre Ken (Christian Bale) e Mollie (Caltriona Balfe). Mas tudo isso é pólvora seca no meio do asfalto, a mais de 300 quilómetros por hora.
Como disse no inicio, eu gostei de "Ford v Ferrari". Manteve-me entretido durante uma hora e meia, contando-me uma história sobre um tema que eu gosto. Isso não vai fazer dele nem um grande filme, nem algo interessante para quem não tem interesse pelas corridas de automóveis e pelos automóveis de corrida. Não há nada de novo aqui. Só velocidade, engenharia, destreza de condução e máquinas, belas, é certo, mas apenas máquinas.