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“Island” começa com uma frase: “Aos 29 decidi matar a minha mãe” – uma voz-off feminina, com o ecrã ainda negro. O que poderia ser uma mera constatação de conversa de café sobre Freud – afinal já todos nós decidimos matar o pai ou a mãe – vai manter-se suspensa por todo o filme. De forma obsessiva, quase subconsciente, fica a pairar como uma faca sobre a cabeça, não do objecto da intenção, mas da autora da sentença.
Elizabeth Mitchell e Brek Taylor filmam uma história sobre silêncios e desencontros, mesmo quando os personagens conversam e estão juntos. “Island” é muito mais sobre o que não se diz, sobre o frio desolador e pessoas sós, incompreendidas e – porque não? – incompreensíveis. É sobre o nevoeiro que cai à noite na floresta – quem se vai lembrar da Branca de Neve? – e o mar que trás histórias de fadas e lendas de marinheiros.
Nikki Black (Natalie Press), sob o pretexto de trabalhar num projecto de geografia humana, chega a uma ilha – que não se sabe onde fica, nem como se chama. Aluga um quarto em casa de Phyllis (Janet McTeer), que tem um filho, Calum (Colin Morgan). A partir daí, a história vai desenrolar-se de forma crua e dura. Se acaba bem ou mal, cada um decida por si.
Os realizadores não fazem brincadeiras com as câmaras, nem o filme vem embrulhado em coloridos de luxo. “Island” é frio como o tempo na ilha, cru como a vida de pescador e misterioso como as histórias que o mar trás. Nada aqui é supérfluo nem especialmente abrilhantado e até a banda sonora é tão discreta, que chegamos a duvidar que exista.
Minimal até à exaustão, não vai agradar a todos os espectadores. Eu gostei muito de “Island”, mas compreendo que muita gente não esteja de acordo comigo e muitos vão mesmo desistir a meio, ou até antes. É um filme tão simples que parece feio, feito daquela beleza que não se explica, porque parece não estar lá.
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