domingo, fevereiro 26, 2017

FAZER NOVO DO VELHO

CRÉDITOS COMPLETOS


"It Had To Be You" é um daqueles filmes que até poderia não ser feito, que ninguém daria por falta dele, mas quando acaba, sentimos-nos muito satisfeitos por Sasha Gordon ter arriscado num projeto que talvez falhasse, mas não falha e que, ao contrário de muitas comédias já faladas por aqui, este filme faz rir, não porque lhe seja injetada a triste condição de ter de ser uma comédia, mas porque tem piada, mesmo.

É verdade que toda a beleza e fascínio da história deve-se muito à beleza expressiva e inocente de Cristin Milioti - nascida americana, mas de descendência italiana, checa e irlandesa -, que carrega quase sozinha todo o filme. Mas não é de desprezar todo o resto do elenco que a acompanha, descontraído, verdadeiro, compondo personagens credíveis e interessantes.


A história, de Sasha Gordon e Levi Abrino, é simples: Chris (Dan Soder) propõe casamento à sua namorada, Sonia (Cristin Milioti), que não sabe se quer ou se está pronta para casar. Pronto. Chegará isto para fazer 90 minutos de entretenimento, sem recorrer a uma máquina de encher chouriços? Esta é a pergunta que o espetador começa logo por fazer, ao fim de não mais de 5 ou 10 minutos, já que os dados são lançados logo assim que começa o filme.


Mas enquanto a plateia se vai perguntando como é que a produção vai desembrulhar a meada -. que, à primeira vista, é demasiado emaranhada -, Sasha Gordon vai desfilando uma série de situações divertidas, interessantes e envolventes, de tal forma que, antes do espetador se aperceber, passou uma hora e meia bem interessante, que emocionaram enquanto faziam rir e sorrir.


O filme não renuncia aos clichés do género, como o inevitável final feliz, só que, como no resto, ele vem embrulhado numa originalidade contagiante. É esse fazer novo do velho, que torna "It Had To Be You" um exercício muito interessante, capaz de prender o espetador mais cético. Este é um filme obrigatório, para quem gosta de comédias românticas, porque é das melhores do ano, e para quem não gosta, porque é um belo exemplar de cinema, descomprometido mas convicto.

sábado, fevereiro 25, 2017

QUERER, QUERIA...

Os Olhos da Minha Mãe: CRÉDITOS COMPLETOS

Queria muito gostar deste filme, primeiro porque tem como atriz principal a portuguesa Kika Magalhães (Francisca), segundo porque tem Amália Rodrigues, terceiro porque tem inúmeras referências a Portugal, principalmente através da mãe de Francisca (Diana Agostini) e ainda, porque tem várias conversas em português, entre mãe e filha principalmente, embora seja aquele português manhoso, falado por americanos a tentar imitar brasileiro.

Por isso, exactamente porque queria gostar de "The Eyes Of My Mother", vou começar pelas partes boas. O filme é dum preto e branco impecável intensificado por takes longos e composições de câmara estáticas, que servem para acentuar a intensidade dramática da ação. Nicolas Pesce - que se estreia aqui como realizador - não se poupa a esforços cinematográficos, para esmagar o espetador e consegue-o muitas vezes.


Francisca, representada por Olivia Bond enquanto criança e por Kika Magalhães na adolescência, é afectada pela morte dos seus pais e a solidão que daí resulta, interfere com a forma como se relaciona com o mundo e com os outros. Esta parece ser a história base do filme, mas o realizador nunca consegue definir um ponto de vista que faça o espetador perceber realmente o que comanda a ação. Será um desvio psicótico? Será uma transferência mãe-filha? Em ambos os casos, é frustrante a perspetiva vista da plateia.


O estilo adoptado por Pesce não é totalmente desinteressante, fazendo Francisca parecer sempre pequena, com planos altos ou distantes, onde a personagem se perde na paisagem imensa. O que falta realmente é um ponto de apoio, mesmo que seja para apoiar a ambiguidade. O realizador parece não querer criar uma história tradicional, com principio, meio e fim - e isso não é necessariamente mau -, mas precisava de ter um fio condutor, nem que fosse para a alma de Francisca. Só para se perceber!...


O filme pode ser considerado de horror, feito com um orçamento limitado, mas nem isso serve de desculpa, porque há pouco tempo já aqui tivemos outros que eram fantásticos (e estou a lembrar-me apenas de "The Autopsy Of Janne Doe", mas podia rolar aí para baixo e encontrar outros). Alguém disse algures que "se Ingmar Bergman tivesse filmado "O Massacre No Texas", seria "The Eyes Of My Mother"". Não discordo totalmente, só que o problema, em relação a essas referências, é que este filme parece nunca "estar lá" verdadeiramente.


Não queria terminar sem regressar às partes boas, porque queria mesmo gostar deste filme: "The Eyes Of My Mother" é perfeito para uma sessão de terror, nas meias-noites do cinema lá do bairro e quem for desprevenido vai realmente ficar soterrado pela tensão preto e branco e pela realização intensa. Os amantes de gore, podem arranjar já espaço na agenda.

HAMBÚRGUER GRUMET

CRÉDITOS COMPLETOS


Embora o personagem principal seja um chef, a comida é um prato secundário em "Frank And Lola". No final, estamos perante um filme grumet, com uma cinematografia cuidada, bem interpretado, mas que não é mais que um hambúrguer, difícil de classificar, sem se assumir verdadeiramente quer como thriller, quer como romance.


Muitos dos thrillers de baixo orçamento tentam chamar a atenção através dos velhos truques do cinema negro a preto e branco, mas "Frank And Lola" não cai nesse erro: é um romance honesto, que só vai onde pode e onde deve. O problema é aquela sensação de que, com um risco pequeno, poderia ir muito mais longe.


"Frank And Lola" demora a arrancar, perdendo algum tempo a retratar a relação algo estranha entre Frank (Michael Shannon) e Lola (Imogen Poots), ambos bastante competentes nos personagens tortuosos que compõem. Quando finalmente assenta os pés no chão, o espetador é levado  para uma história de vingança, que dá a sensação de ficar sempre aquém daquilo que poderia conseguir, apesar de todas as reviravoltas que tenta introduzir no argumento.


Matthew Ross tenta não se intrometer muito no desempenho dos atores, talvez por falta de confiança, talvez para deixar respirar a tensão da trama, mas acaba por deixar os personagens à deriva, pelo menos os dois principais. O filme, para ser um thriller, precisa de mais tensão, de outra banda sonora mais dramática, de uma edição mais convincente; para ser um romance, precisa de mais envolvimento entre os personagens, dos quais nunca se percebe bem o relacionamento, para além do facto de estarem juntos em determinado momento, que nunca se sabe onde começou e se realmente acabou.


Este não é um filme mexido como uma omelete, mas é um filme entretido. Não leva o espetador a nenhum sitio onde já não tenha estado - muitas vezes com mais interesse -, mas também não trai ninguém num qualquer beco escuro. Tem o defeito de nunca conseguir que a audiência se entusiasme realmente pela história que lhe é apresentada, como se o realizador quisesse fazer um puzzle e lhe faltasse sempre uma peça.


Os verdadeiros amantes de thrillers vão perceber que "Frank And Lola" pode parecer um restaurante de luxo por fora, mas a comida que apresenta não tem a qualidade da aparência. Pode não ser uma refeição congelada, aquecida à pressa no micro-ondas, mas passou pelas mãos dum cozinheiro que não soube tirar o melhor partido dos ingredientes.

sexta-feira, fevereiro 24, 2017

E SE OS DURAN DURAN FOSSEM DO I.R.A.?

CRÉDITOS COMPLETOS


"Sing Street" começa por parecer um filme politico, mas ao fim de 15 minutos já percebemos que não haverá outro "Sunday Bloody Sunday". Então, perguntamos-nos se poderá ser outro "The Commitments", mas mesmo essa expectativa fica gorada ao fim de mais 10 minutos. Este é - ou deveria ser - mais um "rapaz conhece rapariga", coisa que está bem escrita na capa, portanto só é enganado quem quer.

A primeira coisa que salta à vista é o extremo cuidado que o realizador John Carney colocou na reconstituição da época, nas roupas, nos carros (o Golf GTI Cabrio continua lindo!...) e, principalmente, na música - que, aliás, é o tema central do filme, restando apenas saber se é mais ou menos importante que a história de amor entre Conor (Ferdia Walsh-Peelo) e Raphina (Lucy Boynton).


É preciso deixar um aviso aos mais distraídos: "Sing Street" não é uma comédia ligeirinha. É um drama intenso, sobre pessoas intensas, a passarem momentos intensos. Nem por isso deixa de fazer rir, é verdade, mas o divertimento aqui é circunstancial, deve-se a momentos pontuais bem conseguidos, e talvez sejam esses pequenos instantes de leveza, que retiram peso ao conjunto.


Num ano em que outro musical anda nas bocas do mundo, "Sing Street" vem equilibrar a balança para um cinema mais adulto, embora protagonizado por adolescentes, também estes atrás dum sonho de fama e sucesso, apesar de confinados a uma cidade provinciana e que não lhes oferece grande futuro. Este é um filme sobre música e com música, uma história de amor com todos os clichés das histórias de amor. Só que vem apresentado com a habitual excelência da filmografia das ilhas britânicas, com atores competentes e uma direção exemplar.


Raphina diz que o amor é "triste-feliz" e na verdade os anos 80 deram Duran Duran, The Cure, Guns n'Roses,  mas também deram Ian Curties, Bon Scott, Cliff Burton. É desta dualidade entre a vida e a morte, a felicidade e a tristeza, que é feito "Sing Street". Tal como uma grande canção, que gostaríamos nunca acabasse, este filme termina demasiado depressa, quando desejávamos que ele continuasse para sempre.

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

BACH PEDE NAMORO A IGGY POP

Se Eu Ficar: CRÉDITOS COMPLETOS


Já não é segredo para ninguém: eu gosto de romances. Gosto de dramas românticos, comédias românticas, thrillers românticos... Eu gosto de beijos e abraços, encontros e desencontros. O problema é que Hollywood despacha histórias de amor como o McDonald despacha hambúrgueres e mais de metade não valem as duas horas sentado na sala escura.


Por isso, quando um "rapaz conhece rapariga" sai da mediania, já nos damos por muito contentes e já aqui falei de vários. Agora, quando atinge o nível deste "If I Stay", então, é como estarmos no paraíso, mesmo considerando que Adam (Jamie Blackley) não é assim tão consistente como isso e muita da química que podia emanar com Mia (Chloë Grace Moretz) se perde pelo caminho.


A música é um elemento central em "If I Stay" e não estou a falar na banda sonora, estou mesmo a falar da música como elemento central do filme, como um personagem a mais na história. Mia é filha de pais hipies, que educaram os filhos na cultura rock dos anos 70 e 80, cultura essa que o pequeno Teddy (Jakob Davies) assume sem hesitar, mas que a filha mais velha não partilha, preferindo os clássicos e dedicando-se afincadamente e com êxito ao estudo do violoncelo.


Desta dicotomia entre música clássica e rock urbano contemporâneo, nasce um amor entre Mia e o vocalista de uma banda em ascensão. Nada de novo, à primeira vista. Só que um acontecimento dramático vem alterar este choque de culturas e expor tudo o que de melhor tem o amor e a amizade - aqui na personagem de Kim (Liana Liberato).


A Mia resta-lhe uma única decisão para tomar e essa irá decidir o seu destino. E essa questão vital (nunca a palavra teve tanto sentido!...) vem embrulhada em Iggy Pop, Smashing Punpkins, Beethoven ou Bach, para todos os gostos. Há neste filme muito mais que um simples romance. E se Adam está mais familiarizado com a pergunta "should I stay or should I go?" é Mia que tem de saber a resposta.

CURRÍCULO ACADÉMICO

Juno: CRÉDITOS COMPLETOS

Há filmes que deviam fazer parte do currículo académico de todos os pais, professores e adolescentes. "Juno" devia ser visto na escola, juntamente com a leitura de "Os Lusíadas" e "Amor de Perdição". Ninguém pode dizer que sabe educar ou que é adolescente, sem nunca ter visto este filme; é o mesmo que querer ser católico sem nunca ter lido a primeira frase da Bíblia.


Na sua aparência mais superficial, "Juno" é uma comédia romântica, mas na sua essência, é verdadeiramente uma lição sobre a vida, sobre a família, sobre a amizade. Tudo isto servido com uma banda sonora de excelência para as situações que quer retratar, uma realização duma competência exemplar, sem se intrometer onde não deve, diálogos inteligentes e divertidos e um  leque de atores profissionalmente inexcedíveis, com empatia e sensibilidade para o assunto que estão a representar.


Juno (Ellen Page) pode parecer demasiado matura para a idade, mas na realidade é apenas mais uma adolescente em apuros, com sentido de humor para enfrentar a situação. Tem a sorte de ter uma amiga especial, Leah  (Olivia Thirlby) e pais atentos (J. K. Simmons e Eileen Pedde), que compõem parte do elenco dirigido com mão de mestre por Jason Reitman - o mesmo que, dois anos depois, nos daria o muito competente "Nas Nuvens".


Há uma critica que se pode fazer ao filme: Juno é um personagem irrealista. Tentando fazer de adolescente esquisita, acaba por ser uma caricatura disso mesmo. É justo. Parece mais um cartoon que uma pessoa, tanta a ironia adulta que destila do seu discurso. Mas no fundo, é precisamente isso que dá mais interesse ao drama dos outros personagens. E como ela própria diz, ser a esposa de Zeus, não é para todos!


Enquanto pai e educador, gostava de ter sido eu a escrever este "Juno" e isso é o melhor elogio que posso fazer ao filme, porque estamos a falar duma pequena lista que não ocupa os cinco dedos duma mão, mesmo considerando que toda a película está impregnada duma certa cultura pop dos anos 80, um pouco fora de moda hoje em dia e que, possivelmente, vai passar ao lado da maioria dos espetadores: as t-shirts, a música, algumas piadas com referência a séries e filmes.



O filme é uma montanha russa, amado na mesma medida em que é odiado. Metade dos espetadores acham-no irritante, com as suas piadinhas quase a desproposito. Afinal, quem é que atura uma adolescente que grita "Thundercats, aí vamos!" quando lhe rebentam as águas e começa o trabalho de parto? Mas isso é a superfície. Como se o argumentista Diablo Cody quisesse meter cá para fora toda a sua própria adolescência.


Podem dizer o que quiserem, mas "Juno" é inteligente, divertido e comovente. Começa como uma simples comédia e acaba como o retrato de um conjunto de personagens por quem nos vamos apaixonando. A diferença de opiniões só serve para sublinhar a importância do tema central.

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

SIMPLICIDADE DESCONCERTANTE

Come And Find Me: CRÉDITOS COMPLETOS


Eu gosto deste género de filmes, que se deixam desenrolar sem pretensões e sem quererem inventar nada. "Come And Find Me" faz uso de todos os clichés do género e por isso é duma simplicidade desconcertante. A diferença é que, sabendo que não tem nada de novo para apresentar, o filme não se faz rogado em mostrar exatamente o que é, sem complicar o que já foi feito por outros melhores. Mais vale seguir a receita, em vez de querer improvisar e fazer asneira.


Claire (Annabelle Wallis), a namorada de David (Aaron Paul), desaparece sem deixar rasto. Ao fim de um ano, quando está prestes a desistir, uma serie de estranhos acontecimentos fazem-no reconsiderar. Nada de novo, portanto, só que Zack Whedon não é Hitchcock nem Polanski e Aaron não é James Stewart nem Harisson Ford, por isso o melhor é não querer parecer o que não é e ficar-se pelo mais simples possível. E é essa honestidade que cativa em "Come And Find Me".


Vamos então jogar o jogo com as cartas que temos, de tal forma que cedo o espetador percebe que não lhe querem impingir gato por lebre. O que há é precisamente o que está à vista. O filme é um artigo de contrafação, mas nem por isso é uma imitação rasca, é apenas um entretenimento de duas horas bem feito, com uma realização competente, numa história simples, servida por atores capazes.


Sem dar muitas piruetas de argumento, "Come And Find Me" tem suspense e mantêm a plateia interessada no que pode acontecer a seguir. Sabe criar tensão, sabe dramatizar, é agradável e cativante. Não é o melhor filme do ano e tem a honestidade de não querer parecê-lo. É puro entretenimento e, nesse particular, é-o efetivamente.


Muitos espetadores vão ter muitas criticas a fazer: é um romance, antes de ser um thriller? É que, nesse caso, já se viu muito melhor!... O despropósito de alguns flashbacks podem tirar o interesse da trama central; falta-lhe um fio condutor consistente, que tanto poderia ser a história de amor como a vida secreta, mas que o filme se decidisse por uma delas. É tudo verdade. Mas mesmo assim, é um belo exercício de série "B".

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

UMA BOA TARDE EM FAMÍLIA



"Passengers" podia descambar num cocktail absurdo. Começa por parecer ficção cientifica, de repente transforma-se num romance e acaba por ser um thriller. Tudo isto sem contemplações pelo espetador e sem aviso prévio. Mas a verdade é que Morten Tyldum - o mesmo de "O Jogo da Imitação", sim - consegue um filme muito bem equilibrado, com momentos de tensão e drama em perfeita harmonia.


Jim Preston (Chris Pratt) vai hibernado numa viagem de 120 anos, para uma colónia terrestre noutro planeta. Devido a uma avaria, acorda 90 anos antes do tempo, e vê-se sozinho numa nave vazia, com exceção dum barman robot (Michael Sheen), que insiste em afirmar que é um andróide (os amantes de ficção cientifica reconhecerão a diferença!...).


Claro que, logo de inicio, o espetador pergunta-se se o tema irá aguentar duas horas de filme. Mas o argumento de Jon Spaihts tem inúmeras surpresas guardadas na manga. E o filme vai atirando com a plateia de um lado para outro, como as bebidas misturadas num shaker, nas mãos de um empregado competente.



Para  bem da sua sanidade mental, Jim tem de fazer uma má opção e "Passengers" é precisamente sobre tomar más opções por motivos vitais. Mas sejamos claros: quem não cometeria qualquer crime, por 90 anos de convívio privado com a "miúda azul" de X-Men ou a Katniss Everdiin de "The Hunger Games"? Jennifer Lawrence (Aurora Lane) e, mais tarde, Laurence Fishburne (Gus) acabam a fazer o trio que tem de lidar com uma nave que parece enlouquecer a cada instante.



Não restam dúvidas que, na sua essência, "Passengers" é um romance. É um filme para ir passar uma tarde na companhia da mulher e dos filhos, com a certeza de que ninguém se irá arrepender. Mas isso é demasiado redutor para uma história cheia de nuances e surpresas, onde os atores representam com credibilidade um argumento bem escrito e bem filmado, transformando um simples drama romântico, numa aventura interessante.





sábado, fevereiro 04, 2017

FLORENÇA DEITADA FORA




"Lost in Florence" é um daqueles filmes que nos fazem pensar porque é que se gasta tempo (e dinheiro) a fazê-lo. Florença deve ser linda, mas tirando isso, nada no filme funciona, de tal forma que nem a paisagem da cidade consegue animar o espetador.


Evan Oppenheimer limita-se a andar de câmara em punho, perdido atrás de atores igualmente perdidos, sem carisma e sem interesse no que estão a fazer e no que devia ser suposto entusiasmar os espetadores. Reconheço: Alessandra Mastronardi (Stefania) é sexy, tem aquela beleza latina que me fascina, mas está muito longe da Milly de Woody Allen em "To Rome With Love", que, mesmo assim, já não era grande coisa.



Este é um mau "rapaz conhece rapariga". Os atores não funcionam, não têm química nem paixão, e a introdução do Calcio Fiorentiono - um jogo medieval, que parece mesmo a propósito para um ex-jogador de futebol americano - para criar alguma tensão entre culturas, falha redondamente, porque nem os personagens estão convictos daquilo que estão a fazer.


Não me canso de repetir: um bom romance é muito mais que beijinhos e abraços entre duas pessoas (supostamente) apaixonadas. Acima de tudo, é preciso que o espetador sinta a paixão, é preciso que o espetador se apaixone também. Sim isso, é apenas um desfilar de cenas sem sentido.


"Lost in Florence" tem Florença e nada mais. E mesmo a beleza da cidade, acaba por perder-se numa sucessão de desinteresse absoluto.