sexta-feira, março 09, 2018

A VIOLÊNCIA PODE SER UMA PIADA

Três Cartazes à Beira da Estrada: CRÉDITOS COMPLETOS

A imagem de Frances McDormand vai estar sempre colada à da policia Marge, que entre rios de sangue e selos de correio, soluciona o mistério de "Fargo", escrito e realizado pelo marido Joel Cohen e pelo cunhado Ethan Cohen - que, aliás, já a tinham dirigido noutra maravilha dos irmãos: "Sangue por Sangue".


E a imagem de "Fargo" nem sequer é inocente neste "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri", nem o registo de Frances McDormand é assim tão diferente. Ambos são comédias negras duma violência atroz, embora no primeiro ela possa ser mais explicita que aqui, onde a tensão é latente, mais pressentida que visual. No entanto, ambos são aquele género de filmes em que o espectador se irá perguntar se esteve a ver um policial sanguinário ou uma comédia, quando, na verdade, esteve a ver ambos.


A filha de Mildred (Frances McDormand) é violada e assassinada - não necessariamente por esta ordem, segundo se dá a entender - e revoltada com a inoperacionalidade da policia local, a mãe decide colocar à beira da estrada de entrada na cidade, três outdoors de provocação às autoridades. Sendo uma localidade da América sulista profunda, com o seu conservadorismo e tradições enraizadas, esta acção vai provocar uma sucessão de acontecimentos trágico-cómicos, que levarão a consequências violentas e imprevisíveis.


Embora Frances McDormand seja a estrela maior da companhia, a verdade é que é auxiliada por um elenco de tal forma brilhante, que o filme se torna uma exibição de talento na arte de representar: Caleb Landry Jones (o filho), Woody Harrelson (o chefe da policia), Zeljko Ivanek (o sargento), todos eles formam um elenco exemplar, levando o realizador e argumentista Martin McDonagh ao êxtase.


Não se pode dizer que eu tenha entrado no cinema completamente às cegas para ver este filme, mas a verdade é que também não estava à espera de tal brilhantismo, no desenvolvimento do argumento, no requinte do humor negro, na tensão latente e num final onde a solução do crime é o menos importante, contrariando todos os clichés do género. O filme conjuga um aglomerado de elementos brilhantes, colocados em conjunto entre si de forma a fazer todo o sentido em conjunto.


Enquanto candidato aos Óscars da Academia de Hollywood, e colocado lado a lado com "A Forma da Água" - que, como sabem, adorei! -, podemos dizer de o júri tem um problema: ao contrário de outros anos em que há um nítido vencedor ou, por outro lado, não há nenhum que devesse ganhar, este ano estamos perante duas obras tão diferentes quanto brilhantes.

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